segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A Melanésia os dias de hoje.


            Melanésia, (do grego – ilha dos negros), fica ao nordeste da Austrália, no oceano Pacífico, e conta com os territórios:
#  Fiji  -  País independente
#  Nova Caledônia  -  dependência francesa
#  Nova Guiné  -  território dividido entre Indonésia e Papua-Nova Guiné
#  Ilhas Salomão  -  País Independente                                                                       
#  Vanuatu  -  País Independente
#  Ilhas Molucas  -  território Indonésio
#  Ilhas do Estreito de Torres  -  pertence à Austrália

FIJI
            No site oficial WWW.fiji.gov.fj/  (página em inglês), podemos encontrar dados  atuais sobre este País, tais como: clima, geografia, cultura, tradição, etc., inclusive a informação de que os brasileiros estão entre os povos que não precisam de visto para entrada em seu território.
                   Este tipo de embarcação já era usada  quando da pesquisa de Malinoviski, e, ainda                             hoje serve de transporte aos nativos. 
               


            Com 19 mil km quadrados este território francês é denominado de “paraíso na terra”. Situa-se acima do trópico de capricórnio, e, para os que a visitam os maiores encantos são a extensa barreira de corais (cerca de l.600 km) e as águas sempre em temperatura variando de 21 a 29 graus.

            Este território, como pode ser observado no mapa, é dividido entre a Indonésia e Papua-Nova Guiné, por isso é também conhecida como “Papuásia-Nova Guiné, e, sua Capital Port Moresby, era a terra natal dos “Motu”,  que chamaram a atenção de Malinovski em função do seu sistema de comércio com as tribos do golfo de Papua.


            As ilhas Trobriand fazem parte da Melanésia e politicamante ligadas a Papua-Nova Guiné. São, em parte, ilhas vulcânicas com um solo bastante fértil e ainda são conhecidas pelo seu sistema de trocas (o kula), estudado por Malinovsky.

            Apesar de ser pouco habitado, em função das condições climáticas, o Alaska é o maior estado, 945km², dos Estados Unidos. Os habitantes deste extenso território são na sua maioria esquimós e índios.
            Uma curiosidade sobre este estado americano é que ele foi adquirido dos russos, em 1867, por sete milhões e duzentos mil dólares. O Alaska também é conhecido como a “fronteira do mundo”.

SAMOA  AMERICANA  E  POLINÉSIA
            Samoa Americana é  exemplo de uma cultura e um povo que, ao longo dos anos tem desenvolvido em uma estrutura diversificada, o tradicional e o moderno.
            A Polinésia é um conjunto de ilhas, sendo a mais famosa a ilha Tahiti, onde se situa a Capital Papeete. Contudo, após a aquisição de um pequeno conjunto de ilhas,  chamadas Tetiaroa pelo ator Marlon Brando, considerado ícone do cinema norge americano, o arquipélago adquiriu fama de reunir celebridades. Sabe-se que hoje seu conjunto de ilhotas será transformado em um  resort de luxo e receberá o nome de  The Brando.
           
           









Mauss e suas contribuições.


É importante buscarmos entender Marcel Mauss em um primeiro momento por uma de suas maiores características, que é há uma grande influencia e também, de uma certa forma, uma aprimoramento da obra de seu tio, Émile Durkheim,  o qual desenvolve a perspectiva de fato social, como o motor produtor e principal fator coercitivo que move as ações dos indivíduos, ou seja eles importam apenas e para a sociedade, e esta é realmente onde tudo se move e onde as ação se fazem, sendo superior a qual quer preceito que considere a individualidade. Mauss já aperfeiçoa esta concepção criando um grau de complexidade onde as características que movem as ações são influenciadas por varias camadas de valores estes diferentes e mesmo assim importantes. Entendendo que este uma condição mais humana, já que o caráter social, mas também econômico, afetivo, simbólico e uma serie de outros valores, tão importantes quanto, que agem como condicionantes envolvidos no que define os rumos do homem de uma maneira geral, denomina assim: o fato social total. Aqui também é aberto dialogo que a antropologia faz com a interdisciplinaridade[1] por em seu universo absorver entendimentos da psicologia, biologia e sociologia. Em resumo sua percepção e multidimensional.
É importante destacar a sua tese sobre os processos de aliança. O autor tem uma corrente evolucionista implícita em alguns trechos de sua obra mais importante, O ensaio sobre a dadiva, a sua forma de perceber as sociedades que analise através de relato não deixam escapar algumas expressões próprias dos evolucionistas, como: origem, arcaica, atrasada.  Estes são diálogos que ele faz em suas analises, também com o funcionalismo, mas é importante frisar que seus conceitos vão além de um estrutural funcionalismo.
Sua obra pode ser referenciada e servir de embasamento para uma discussão com varias perspectivas, como a Marxista, feita em uma abordagem critica que Marcos Lana[2]  percebe vários elementos que compõem a sua influência conceitual.
A escola francesa com Mauss ganha um substancia antes imaginada, que ira influenciar grandes nomes da antropologia como Claude Lévi-Strauss.
Entretanto no ensaio sobre a dadiva o que o autor enfoca como ponto principal é exatamente a dadiva e seu caráter simbólico, no que se refere às alianças possíveis que se fazem neste caráter o que poderíamos chamar de solidariedade, já visto em Durkheim, mas que vai além disso, sendo em sua perspectiva o que alicerça toda as relações sócias em um nível mais profundo e simbólico.

O ensaio sobre a dadiva e os povos da Melanésia

A releitura do paradigma da dadiva é percebida por Mauss atingindo outras proporções em sua valoração das relações sociais.

[3]“O caráter voluntario, por assim dizer, aparentemente livre e gratuito, e, no entanto obrigatório e interessado, dessas prestações. Elas assumiram quase sempre a forma do regalo, do presente oferecido generosamente, mesmo quando, nesse gesto que acompanha a transação, há somente, mesmo quando, nesse gesto que acompanha a transação, há somente ficção, formalismo e mentira social, e quando há, no fundo, obrigação e interesse econômico. E não obstante indicarmos com precição os diversos princípios que deram esse aspecto a uma forma necessária da troca” MAUSS: 2003; p.188     

Sua interpretação, ou seja, seu entendimento pertence a um entendimento dialético social e econômico polarizado pelas relações de honra de uma dadiva e uma prestação de serviços. O que nos faz evitar perceber apenas uma troca e sim um aspecto mais completo e simbólico.
O método usado baseou-se em estudos de relatos de áreas determinadas com os seguintes povos: Polinésia, Melanésia, noroeste Americano.
Como relata seguir Mauss confia nos relatos declarando que o caráter Filológico é um dos critérios para a veracidade dos escritos. Entretanto, o seu trabalho tem seu caráter enfraquecido por saber que este se apoia em relatos externos a observação do próprio Mauss. Está pode ser uma de suas falhas na busca de uma realidade mais veríssima, sabe-se que Mauss não teve grandes experiências no campo. Todavia a lucidez de suas analises e o critério que opera com as fontes colhidas é exemplar.

“Nas economias e nos direitos que precedem os nossos, nunca se constatam, por assim dizer, simples trocas de bens, de riquezas e de produtos num mercado estabelecido entre os indivíduos. O primeiro lugar, não são indivíduos, são coletividades que se obrigam mutuamente, trocam e contratam; as pessoas presentes ao contato são pessoas morais: clãs, tribos, famílias que se enfrentam e se opõem seja em grupos frente a frente num terreno, seja por intermédio de seus chefes, seja dessas duas maneiras ao mesmo tempo. Ademais, o que eles trocam não são exclusivamente bens e riquezas, bens móveis e imóveis, coisas úteis economicamente. São, antes tudo, amabilidades, banquetes, ritos, serviços militares, mulheres, crianças, danças, festas, feiras, dos quais o mercado é apenas um dos momentos, e nos quais a circulação, de riquezas não é senão um dos termos de um contrato bem mais geral e bem mais permanente.” MAUSS: 2003; p.191



Documentários, filmes e palestras:    

"Marcel Mauss e as Ciências Sociais" Palestra, Vídeo realizada no 30º Encontro Anual da Anpocs - 2006 disponibilizado pela ANPOCS - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais.

Estudos e resenhas:

Bibliografia:

MAUSS, Marcel; Sociologia e antropologia, ed. Cosac Naify, São Paulo, 2003  

LANA, Marcos (2000); “Nota sobre Marcel Mauss e o ensaio sobre a dadiva”, Revista de Sociologia e Política nº 14: 173-194, junho. Página consultada a 27 de novembro 2011, <http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n14/a10n14.pdf>


[1] Como podemos perceber no artigo de SANETO, Juliana Guimarães; Educação Física e Marcel Mauss: contribuições antropológicas; publicado na EFDeportes.com, revista digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 152, Enero de 2011;
[2] LANA, Marcos; Nota sobre Marcel Mauss e o ensaio sobre a dadiva, http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n14/a10n14.pdf
[3] MAUSS, Marcel; Sociologia e antropologia, ed. Cosac Naify, São Paulo, 2003   

Kula e Potlatch

                O Kula e o Potlatch têm uma importância fundamental para o teórico Marcel Mauss, pois estes constituem fenômenos sociais que se apresentam e tomam diferentes formas de classificação e perspectiva, tais eventos podem ser estudados por um viés cultural, social (questões hierárquicas), religioso (místico) ou até mesmo econômico. Dessa maneira, os dois podem ser entendidos como vigorosos processos de interação entre os habitantes de determinado meio social, daí advêm sua relevância.
            O aspecto cultural pode ser compreendido pelo fato desse costume ser repassado de geração para geração e em cada sociedade esses fenômenos sociais apresentam suas particularidades.
            No plano religioso, percebemos que as trocas não são motivadas exclusivamente por valores materiais, mas também por valores espirituais. Acredita-se que os objetos têm um valor subjetivo e essa subjetividade se manifestaria entre aqueles que praticam esse costume. Além da troca material ocorreria a troca entre almas.
            No que diz respeito ao ponto social, aqui percebemos uma semelhança muito grande com o aspecto cultural destas trocas, na verdade o significado social da Kula e do Potlach se deve em grande parte ao senso cultural e religioso desses costumes, pois estes são os responsáveis pela consolidação de tais fenômenos em determinadas sociedades, fazendo com que tais fenômenos constituam verdadeiras relações sociais das mais destacadas no meio social em que elas se inserem.
            O lado econômico da questão surge a partir do principio, defendido por alguns teóricos, que prega que a economia tem raízes na dependência do homem relativamente ao seu semelhante e à natureza que o cerca, para garantir a sua sobrevivência.

O sistema de comércio Kula


O sistema Kula de comércio foi descrito e analisado primeiramente por Malinowiski (considerado um dos “Pais Fundadores” da Etnografia), no livro “Os argonoutas do pacífico ocidental (1922)”, elaborado a partir de seu trabalho de campo nas Ilhas Trobriand, na Melanésia.
De acordo com Lanna:
Ainda a partir da etnografia de Malinowski, Mauss retoma as diversas formas de dádivas trobriandesas (inicial, de fechamento, convite, de retorno etc.) interpretando-as como “formas primitivas de classificação”. Corretamente, não dá atenção à (re)classificação malinowskiana desta classificação trobriandesa. Sugere futuras pesquisas sobre o lugar do indivíduo não generoso no kula, infiel aos seus parceiros, e conclui que “o kula não passa, ele próprio, de um momento, o mais solene, de um vasto sistema de prestações e contra prestações que parece englobar a totalidade da vida econômica e civil dos trobriandeses” pois “ele concretiza e reúne muitas outras instituições” (idem, p. 83). O kula é assim um fato fundamental da vida trobriandesa, englobando não só o que Mauss chama de “vida civil e econômica” (incluindo aqui a política e a diplomacia intertribal) como também os mitos, a religião, a magia, as práticas funerárias e a moral (Mauss, 1974, p. 86). (Lanaa, 2000, p. 183)


Para Marcel Mauss: “O kula é uma espécie de grande potlatch” (Mauss, 2003, p.214). A partir do trabalho de Malinowiski, ao qual elogia, Mauss elabora sua análise do grande “sistema de comercio intertribal e intratribal” denominado kula, que se estende por todas as ilhas Trobriand.
Apesar de tratar-se de um sistema comercial, para Mauss “o comércio kula é de ordem nobre.”(Mauss, 2003, p.215), o que quer dizer que os objetos de trocados no kula possuem um valor distinto dos demais, que excede o simples valor comercial de uma moeda de troca qualquer e, por isso mesmo, possuem uma esfera de circulação restrita. Segundo Lanna:
O kula, por exemplo, pode ser entendido como um comércio intertribal, por implicar uma troca circular que ocorre entre várias ilhas melanésias. Mas, como Malinowski mostra, ele é distinguido pelos próprios trobriandeses das trocas puramente econômicas “de mercadorias úteis”, denominadas gimwali, e que ocorrem paralelamente a ele (idem, p. 74). Mauss nota que os trobriandeses sempre foram comerciantes. Em resumo, para Mauss, como para Malinowski, as trocas podem ter um caráter mais ou menos comercial.” (Lanna, 2000, p. 182)


Nas palavras do próprio Mauss:
“Para começar, a troca dos próprios vaygu’a  enquadra-se, por ocasião do kula, em toda uma série de outras trocas extremamente variadas, que vão do regateio ao salário, da solicitação à pura cortesia, da hospitalidade completa à reticência e ao pudor.” (Mauss, 2003, p. 223-224)

Mauss também aponta para a questão dos valores e das motivações envolvidas nas trocas, entre as tribos que participam do sistema kula:
“A importância e a natureza dessas dádivas provêm da extraordinária competição que se instala entre os parceiros possíveis da expedição que chega. Eles buscam o melhor parceiro possível da tribo oposta. A questão é grave: pois a associação que se tenta criar estabelece uma espécie de clã entre os parceiros. Para escolher, portanto, é preciso seduzir, deslumbrar. Levando em conta as hierarquias, é preciso atingir o objetivo antes que os outros, ou melhor que os outros, provocar assim trocas mais abundantes das coisas ricas, que são naturalmente propriedade das pessoas mais ricas. Concorrência, rivalidade, ostentação busca de grandeza e interesses, tais são os motivos diversos que subjazem a todos esses atos.” (Mauss, 2003, p. 225)    

       

E, tecendo um comentário sobre o objetivo de Mauss ao analisar esses “fenômenos sociais totais” (o potlatch e o kula, dentre outros) no Ensiao sobre a Dádiva, Lanna encerra:
“... para Mauss as trocas incluem bens mais ou menos alienáveis, assim como bens economicamente úteis ou não. Elas podem incluir “serviços militares, danças, festas, gentilezas, banquetes, mulheres”; em resumo, qualquer “circulação de riquezas” (incluindo-se aqui as mulheres) é apenas um momento “de um contrato mais geral e muito mais permanente” (MAUSS, 1974, p. 65). Ou seja, o objeto do Ensaio não é a economia primitiva, mas a circulação de valores como um momento do estabelecimento do contrato social.” ). (Lanaa, 2000, p. 179)

Marcel Mauss e o Ensaio sobre a dádiva.

Quem é Marcel Mauss?
Marcel Muass (1872-1950) nascido em Epinal, cidade situada no nordeste da França, é sobrinho de Emile Durkheim, criador da Sociologia, como Ciência; acompanhado e iniciado à cientificidade pelo seu tio. É o que diz Fernando Giobellina Brumana:

O tio não apenas se manteve bastante próximo
à formação do sobrinho como se converteu de
fato em seu mentor intelectual, e suas vidas e
obras permaneceram entrelaçadas até a morte
do primeiro. (Brumana, 1983)



Após a morte de seu tio, Marcel Mauss alça um vôo ainda mais alto e se desprende dos olhos de Durkheim. Essa nova caminhada diz respeito ao que François Laplantine diz sobre esse “pé à frente” que Mauss dá, na obra Aprender Antropologia. Aquele fala que este hoje é classificado como um homem “pluridisciplinar”. Dentro desta perspectiva, vislumbramos que Emile Durkheim utilizava Sociologia para explicar seus fatos sociais. Já, Marcel Mauss, irá dizer que os fatos sociais existem, mas, não podem ser explicados somente por uma direção; é preciso recorrer à Antropologia e à Psicologia. A Antropologia era vista como “assessório“, agora tende a ser independente.
Nosso autor vislumbrou que a realidade é complexa, é “tecido junto” como diria Edgar Morin. Com tal idéia formula um novo conceito, o “fenômeno social total”; não rompe com o “fato social” de Durkheim, apenas o insere em uma totalidade. Essa nova base teórica é explicada por Laplantine da seguinte forma:

Um dos conceitos maiores forjados por Marcel Mauss
 é o do fenômeno social total, consistindo na integração
 dos diferentes aspectos (biológicos, históricos, religioso,
 estético...) constitutivos de uma dada realidade social que
 convém apreender em sua integralidade. (Laplantine, 2003)



Essa mudança se dá concretamente na obra “Ensaio sobre a dádiva”, onde Marcel Mauss analisa as trocas de presentes em seu sentido material e em seu sentido simbólico, tudo dentro de uma generalidade, e em duas perspectivas: no direito e na economia; principalmente na costa noroeste da América do Norte, nas ilhas da Melanésia e na Polinésia. Contudo, apesar de preconizar uma Antropologia independente, mas atrelada à Sociologia, não se vale de um trabalho etnográfico, diferentemente de seus antecessores Franz Boas e Malinowski. Acarretando posteriormente críticas para tal “erro”.

ANÁLISE DO ENSAIO SOBRE A DÁDIVA

SISTEMA DE PRESTAÇÕES TOTAIS: POTLATCH

Traçaremos agora uma análise a despeito do que é esse “potlatch”. Imaginemos uma sala de aula, onde existem vários grupos distintos; neste local, tais aglomerados se relacionam de diversas formas, e uma delas, a mais importante, é a troca de presentes entre um grupo e outro, ou entre uma pessoa do grupo A e outra do grupo B. Esses presentes fazem parte de uma relação de interesses, ou seja, o que se é dado não é o alienado de todo. Por exemplo: um aluno do grupo A quer namorar uma menina do grupo B, e para tal conquista aquele deverá oferecer algo para tal grupo, mais precisamente para o “chefe” deste. Essa tal relação de conquista simboliza o Marcel Mauss explicita, que as trocas não são apenas em seu sentido prático, mas sim, também ações que geram trocas de festas, ritos, mulheres, serviços militares, banquetes, amabilidades, danças etc. isso se dá o nome de “sistema de prestações totais”. Prestações aqui estão no sentido de “relações”. As prestações totais levam o nome de potlatch, que significa, segundo Mauss: “nutrir”, “consumir”.
Explicando melhor o que foi dito, tal relação se dá entre “dar, receber e retribuir”. E mais, isto é bastante contraditório já que é uma ação obrigatória e ao mesmo tempo livre. É livre para dar, mas é obrigatório receber e retribuir; o intuito dessas práticas é gerar aliança e comunhão entre as partes. Mauss, explica:
direitos e deveres de consumir e de retribuir, correspondendo a direitos e deveres de dar e de receber. Mas, essa mistura íntima de direitos e deveres simétricos e contrários deixa de parecer contraditória se pensamos que há, antes de tudo, mistura de vínculos espirituais entre as coisas, que de certo modo são alma, e os indivíduos e grupos que se tratam de outro modo como coisas. (Mauss, 2003)


Acabamos de observar que as coisas presenteadas têm alma, estão personificadas. Outro esclarecimento:
“dois elementos essenciais do potlatch propriamente dito são nitidamente atestados: o da honra, do prestígio, do mana que a riqueza confere, e o da obrigação absoluta de retribuir as dádivas sob pena de perder esse mana, essa autoridade, esse talismã e essa fonte de riqueza que é a própria autoridade.” (Mauss, 2003)

Marcel Mauss nos dá um exemplo prático de que os presentes, as dádivas, fazem parte de um todo, “realidade e transcendental”. Descreve:
“Em todas as sociedades do nordeste siberiano e entre os Esquimós do oeste do Alaska, assim como entre os da costa asiática do estreito de Behring, o potlatch produz um efeito não apenas sobre os homens que rivalizam em generosidade, não apenas sobre as coisas que eles se transmitem ou consomem, sobre as almas dos mortos que assistem e participam da cerimônia, e das quais os homens carregam o nome, mas também sobre a natureza. As trocas de presentes entre os homens, ‘name-sakes’, homônimos dos espíritos, indicam espírito dos mortos, os deuses, as coisas, os animais, a natureza, a serem ‘generosas para com eles’. A troca de presentes produz a abundância de riquezas.” (Mauss, 2003)

 No Ensaio sobre a dádiva, há a descrição de três “potlatchs”: Potlatch tlingit; Potlatch haïda; Potlatch esquimó.
A essência desse sistema de prestações totais é a “troca-dádiva” e isso se dá mais concretamente na Polinésia. Mauss define: “não é outra coisa senão o sistema das dádivas trocadas.” (Mauss, 2003). E dá sua morfologia:
“Pois o potlatch é bem mais que um fenômeno jurídico: é um daqueles que propomos chamar ‘totais’. Ele é religioso, mitológico e xamanístico, pois os chefes que nele se envolvem representam, encarnam os antepassados e os deuses, dos quais portam o nome, cujas danças eles efetuam e cujos espíritos os possuem. Ele é econômico, e convêm avaliar o valor, a importância, as razões e os efeitos dessas transações, enormes mesmo quando calculadas em valores europeus atuais. O potlatch é também um fenômeno de morfologia social: a reunião das tribos, dos clãs e das famílias, e até mesmo doas nações, produz um nervosismo e uma excitação notáveis: os grupos confraternizam e no entanto permanecem estranhos; comunicam-se e opõem-se num gigantesco comércio e num torneio constante.” (Mauss, 2003)


Para encerrar nossa humilde análise, esse sistema de dádivas pressupõe que cada retribuição advenha de juros, “toda dádiva deve ser retribuída dessa forma” (Mauss, 2003). E que tal sistema faz circular as riquezas, as crenças, os simbolismos de cada grupo.



Brumana,Fernando Giobellina. Antropologia dos sentidos: introdução às idéias de Marcel Mauss. São Paulo. Brasiliense, 1983.
Bronislaw, Malinowski.  Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquepélagos da Nova Guiné melanésia. Tradução: Anton P. Carr e Lígia Aparecida Cardieri Mendonça. São Paulo: Abril Ciltural, 1978.
LAPLANTINE, François (1996) Aprender Antropologia. 9ª edição. São Paulo, Editora Brasiliense.